Sónia Jerónimo, Cooperativa – Cowork das Aldeias de Montanha – Lapa dos Dinheiros
Por entre uma paisagem mágica, brindados com o ar puro que só na Serra se consegue fazer sentir, chegámos à aldeia de Lapa dos Dinheiros. Depois de subidas intermináveis e de um silêncio que nos acolhe à chegada, encontrámos o espaço de Coworking da rede de Aldeias de Montanha, uma antiga escola primária da aldeia. Fomos surpreendidos pela familiaridade do lugar, o que de forma imediata quebra qualquer potencial preconceito com este tipo de espaços de trabalho compartilhados. A combinar com a atmosfera do espaço, foi a recepção da Sónia, que rapidamente percebemos que seria a anfitriã perfeita para este encontro.
A Sónia nasceu e cresceu na cidade de Tomar, mas a entrada no ensino superior levou-a no 12º ano até Lisboa para ingressar na licenciatura em Economia. Cinco anos depois, sentia que o caminho seria através da vida académica, e após ter sido selecionada para uma bolsa na Universidade da Beira Interior da Covilhã, para lá se mudou de armas e bagagens durante 4 anos. Cheguei à conclusão que dar aulas não era boa ideia, sobretudo porque eu tinha acabado de sair dos bancos da escola de um lado e estava a sentar-me no outro. Além de manuais académicos eu não tinha nada para apresentar aos alunos, porque eu não tinha experiência nenhuma de mercado. Foi assim que após terminar o mestrado fugiu do doutoramento, e entrou finalmente no mercado de trabalho, regressando assim à capital.
Esse primeiro contacto com o mundo empresarial iniciou-se logo com um grande desafio, enquanto Diretora Geral do Instituto de Formação Prisma. Eu sou muito de aceitar desafios, primeiro porque eu acredito em mim e eu acho que nós para avançarmos temos de acreditar primeiro em nós. Aceitei e aprendi imenso nesse trabalho e com muitas pessoas com quem lidei e fiquei nessa posição durante 4 anos. Depois veio um bebé e com o final da licença de maternidade a certeza de que estava na altura de mudar, contudo, um novo desafio dentro do mesmo grupo surgiu, e claro que não lhe virou as costas. Eu aceitei e entrei como Senior Manager juntamente com um colega da sede em França e nós os dois devíamos recuperar aquela empresa, era esse o desafio. A verdade é que conseguimos no espaço de 1 ano. Passámos de 10 ou 12 pessoas para mais de 100 e tal e acabámos por ser chamados a França e sermos nomeados diretores executivos da empresa porque tinha sido um case-study a nível europeu. A partir daí a minha carreira no IT nunca mais parou.
Nos anos seguintes, os desafios a nível profissional foram constantes, com muitas mudanças, embora sempre na mesma área e sempre em Lisboa. Há pouco mais de 2 anos sentiu que tinha chegado o momento de fazer a derradeira mudança na sua vida, e foi assim que chegou a esta região. Recebi um convite para formar a GO IT Concept e que tem cerca de 6/7 meses de existência, e escolhemos especificamente a sede aqui na Lapa dos Dinheiros e neste coworking. Somos uma empresa que é um misto de remote first, com nómada digital porque isso é que permite uma integração entre a vida profissional e a vida pessoal. Empreender nesta zona é fantástico, eu tenho uma filosofia que é give first and give back. Nós quando chegamos a um local que não conhecemos acho que primeiro devemos sempre dar.
Com este sentido de missão, foi criando uma série de parcerias com outras empresas e instituições, de forma a conseguir de facto fazer crescer as oportunidades nesta região e também de trazer novas pessoas para trabalhar e viver aqui. Hoje, o meu propósito é continuar a fazer crescer a GO IT, desenvolver tecnologia para qualquer parte do mundo e promover integração entre vida pessoal e profissional e não o tal balanço. Para mim “balance” é uma balança, e se eu tenho mais vida pessoal ou profissional de um dos lados, pareço um equilibrista. A integração é mais do que um balanceamento, significa que a minha vida pessoal faz parte da minha vida profissional. O meu lema é liberdade com responsabilidade e uma liderança muito proativa e muito inclusa. As pessoas têm de ter segurança e espaço para falar e expressar o que sentem e eu promovo muito isso internamente.
A forma como lidera e a procura incessante que demonstra em tornar os seus colaboradores mais felizes no trabalho, é um tema que de alguma forma permeou toda a conversa, tal a paixão que revela por estas problemáticas. Este mindset assume-se claramente como o resultado das múltiplas aprendizagens que foi obtendo ao longo de tantos anos de carreira e principalmente, ao trabalhar com tantas empresas internacionais, onde muitas destas políticas não são novas. O mercado está a reinventar-se. Fala-se muito em pegada ambiental e em sustentabilidade, mas depois vejo os empregadores exigirem o regresso ao escritório, é absurdo.
Quase dois anos depois de se ter mudado para Seia, mais especificamente para uma quinta numa pequena aldeia ali vizinha, deixando para trás a confusão de Lisboa, tem a certeza de que esta foi a escolha certa para esta fase da sua vida. Um sítio muito menos populoso, para mim faz toda a diferença já que demoro 5 minutos pela ausência de trânsito a chegar aqui, e tenho uma paisagem fantástica pelo caminho, e este back to nature é muito importante para mim. Do ponto de vista da habitação é muito mais acessível, tem imensa oferta cultural, tem poucos mas ótimos restaurantes, hospitais, universidades. Eu não consigo ver desvantagens honestamente nesta região, isto do meu ponto de vista e da minha opinião pessoal.
No futuro será certamente este o lugar em que a iremos encontrar, já com novos projetos e com muitos outros na gaveta à espera do momento certo para de lá saírem. Na despedida da aldeia de Lapa dos Dinheiros e após conhecermos a praia fluvial, foi bastante evidente o que levou a Sónia a perder-se de amores por este lugar e a escolhê-lo como a sua nova morada.