Histórias | Capítulo II Serra da Estrela

Rui Pina, Cooperativa Cowork @ Aldeias de Montanha – Videmonte

No mundo digital a distância enquanto intervalo entre dois lugares é hoje uma ideia distante. Desde que a internet esteja do nosso lado, qualquer chamada de vídeo nos permite falar de forma confortável com alguém que se encontre do outro lado do mundo. Nesta conversa com o Rui a distância era apenas de algumas dezenas de quilómetros e a perfeita qualidade da ligação fez dela algo muito similar a um encontro numa qualquer esplanada de café.

A ligação do Rui a Videmonte é umbilical. Apesar de ter nascido e crescido em Coimbra, todas as férias eram passadas nesta aldeia, desde pequeno que passo aqui temporadas, passava aqui as minhas férias sempre com os meus avós. Íamos para a serra com o trator e, enfim, divertia-me à brava quando era pequenino. Hoje a aldeia parece ter ficado mais vazia com a ausência dos seus avós, mas por outro lado, transformou-se no ponto de encontro de toda a família, numa espécie de epicentro de todas as reuniões e eventos familiares. As pessoas aqui são únicas porque ajudam-se sempre todas umas às outras, é uma dinâmica que não encontro nas grandes cidades.

A primeira vez que o Rui deixa Coimbra é para iniciar o seu doutoramento em Inglaterra na área de Engenharia Civil e é no seguimento do mesmo que surge a oportunidade de trabalhar em Itália, onde vive ainda hoje. Nesta empresa o seu trabalho foi sempre feito a partir de casa, excepto quando a necessidade existia de visitar clientes presencialmente. Pós-pandemia, já conseguimos ter muitas reuniões remotamente e portanto fazemos tudo dessa forma e as minhas equipas estão todas a trabalhar remotamente também. 

A possibilidade de encontrar um espaço de coworking em Videmonte parecia remota, até de facto regressar este verão e pela primeira vez sentir a necessidade de usar um destes espaços. Foi assim que o Rui descobriu o coworking de Videmonte, inserido na Rede de Aldeias de Montanha, e contando com mais dois espaços, Lapa dos Dinheiros e Alvoco das Várzeas. Este espaço de coworking oferece-me as condições necessárias ao meu trabalho, e assim a possibilidade de poder estender as estadias aqui em Videmonte e ao mesmo tempo continuar a trabalhar. Portanto dá para continuar a gozar o tempo com a família que está longe mas fazer o trabalho na mesma que faria em casa. Se houvesse um espaço destes lá ao lado da minha casa em Roma, era melhor do que estar a trabalhar em casa. 

Hoje Roma é a sua Casa, e a pequena quinta que entretanto comprou nos arredores da cidade, um dos seus grandes projetos, além da carreira profissional. A ideia de poder finalmente manter-se perto da cidade mas longe do caos foi algo há muito desejado e que agora se concretiza. Perfeita para poder trabalhar perto da natureza, algo que partilha com a sua esposa e também para poder ver crescer os seus dois filhos, ah e agora na quinta também somos produtores de azeite, divertimo-nos muito. Embora em Roma trabalhe a partir de casa, poder usufruir de um espaço de trabalho partilhado algumas vezes por semana ou por mês não é uma opção que esteja fora da mesa, se houvesse um espaço como este ao lado de minha casa em Roma, era melhor do que estar a trabalhar todos os dias em casa.

Por ser o regime que há mais tempo conhece, este é também o regime com que mais se identifica, o que faz com que a possibilidade de um trabalho que implicasse idas diárias a um escritório, lhe pareça hoje impossível e muito mais limitativo, este tipo de trabalho permite uma maior flexibilidade com a família, mas também permite às empresa poder contratar pessoas com um perfil ideal, onde quer que elas estejam. Embora constate que noutros lugares da Europa esta mudança de mindset esteja a acontecer de forma mais rápida e evidente, não tem a menor dúvida de que esse caminho também esteja a acontecer aqui em Portugal. 

Uma coisa assume-se como certa durante esta conversa, a de que em próximas visitas, sempre que necessite de trabalhar, este espaço de Videmonte será o escolhido. É com grande orgulho que vê o nascimento destes espaços neste lugar que será sempre a sua segunda casa e no investimento neste tipo de iniciativas através de instituições locais. Aqui dá para se ter uma vida bastante calma, apreciar a beleza natural desta aldeia, aproveitar o rio, a serra e uma série de coisas que não se tem de todo numa cidade. Se eu estivesse aqui em Portugal certamente procuraria este tipo de ofertas mesmo que não fosse esta a minha aldeia.