Raquel Ribeiro , Overtrail
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Existem pessoas que pela forma leve e simples como vêem a vida, se tornam imediatamente inspiracionais para quem as ouve, mesmo que o seu discurso não seja intencionalmente pensado para atingir esse fim. A Raquel além de ter claramente essa capacidade, consegue ainda, e mesmo que através de um computador, transmitir uma energia que de alguma forma contagia. Ao longo de toda a conversa fomos reforçando esse sentimento e fomos também percebendo a lógica do caminho que vai hoje trilhando enquanto pessoa, e também enquanto profissional. Não fomos de autocaravana, como gostaríamos, mas foi uma viagem em todos os sentidos.
A Raquel nasceu e cresceu na cidade Invicta, e após ter-se formado em Psicologia, teve a sorte de começar imediatamente a trabalhar na área, estando 10 anos numa IPSS que acolhe crianças e jovens. Apesar de terem sido anos de uma enorme aprendizagem, chegou um momento em que sentiu que estava na altura de mudar. Sabem quando a vida corre naqueles trâmites muito normais e nós começamos a sentir, e o que é que vem a seguir? À medida que ia viajando, e conhecendo pessoas com vidas e objetivos muito diferentes dos nossos e que nem por isso eram menos felizes, comecei a questionar-me se o meu modelo de vida era de facto o que eu queria e que fazia sentido para mim. As viagens, aliadas à doença da sua mãe, foram a grande alavanca para que de forma ponderada, começasse a pensar no que viria a ser o próximo passo. Com o falecimento da mãe, pareceu-lhe evidente que a hora de sair tinha chegado, a partir daí foi uma descoberta, porque inicialmente a ideia era sair e ir fazer outro trabalho, mas quando ela faleceu, eu saí sem ter mais nada.
No ano seguinte foi para o Algarve, onde esteve a viver numa eco-comunidade. Essa experiência permitiu-lhe conhecer e desenvolver uma série de novas áreas, como o desenvolvimento pessoal e os retiros, mas também uma paixão recente sua e para a qual havia já tirado uma pós-graduação, em gestão de turismo e hotelaria. Ainda estava a trabalhar quando comecei a receber algumas pessoas em casa, e percebi que gostava muito desta área. Continua a ser o meu sonho, receber pessoas em casa, não no sentido de um turismo rural convencional mas mais ligado à parte da ecologia, retiros, desenvolvimento pessoal, experiências etc. Nesta fase, já partilhava o gosto de viajar, mas acima de tudo de conhecer outros modos de vida e de poder integrá-los no seu, com o Daniel, o seu companheiro. Viajámos muito pelo Centro de Portugal, porque o nosso trabalho está muito relacionado com pessoas que se mudam para zonas rurais e que procuram zonas onde possam plantar e semear os seus próprios alimentos e o Centro é onde existe mais esse potencial. Para nós o Centro tem o melhor de vários mundos.
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Nesta fase dispunham já da carrinha que viriam a transformar numa autocaravana. Nós já trabalhávamos remotamente, e sempre foi nossa ideia ter condições na carrinha para trabalhar e viver, como painéis solares e uma boa cama. Eu tinha o meu apartamento que arrendei, portanto deixei de ter casa e passámos a viver na autocaravana. Passámos de 100m2 para 9m2 e temos vivido assim de uma forma nómada. Muitas vezes aproveitam as bibliotecas para trabalhar e lamentam que estejam quase sempre sem ninguém quando a grande maioria possui excelentes condições que estão a ser desaproveitadas. Por outro lado, aliam muitas vezes estas viagens a trabalhos de house-sitting, onde tendo os proprietários de se ausentar, ficam a tomar conta e a viver na casa deles, e a cuidar dos seus animais, hortas, etc. É assim que vamos vivendo de uma forma minimalista e vendo o que nos faz felizes, que é claramente muito menos do que achávamos que precisávamos. Ao longo do caminho, e percebendo cada vez mais o fascínio pelas temáticas do desenvolvimento pessoal, formou-se também nessa área e hoje é ela própria a criar os seus, a que chama de “experiências com propósito”. Por outro lado, o Daniel é responsável pela gestão do site “Pure Portugal Holidays” onde faz a ponte entre pessoas que querem vir viver para o interior de Portugal e que procuram não só, casa, mas acima de tudo uma comunidade ligada à sustentabilidade onde se possam inserir.
Eu não viajo para visitar um monumento, eu viajo na perspectiva de me integrar lá e de tentar perceber o que é que as pessoas pensam, como é que vivem, e de tentar aprender ao máximo. A sua forte consciência ambiental, fez com que criasse o seu primeiro blog, muito antes ainda desta sua mudança de vida, o “Exploring Sustainable Worlds” em que partilhava exactamente os projetos que ia conhecendo nas suas viagens, ligados à sustentabilidade e à ecologia. Não é por isso de estranhar, que hoje quando desenvolve os seus retiros, procure muitos desses lugares que foi conhecendo, muitos deles de turismo sustentável e regenerativo, onde os participantes podem contactar com opções de vida mais sustentáveis. O meu último retiro foi num desses locais, numa quinta que gera a sua própria eletricidade através da utilização de painéis solares e de recursos hídricos, onde a tecnologia dos tempos de hoje se une à natureza. Acredito que este contacto nos permite viver mais em sintonia com os recursos e ciclos da natureza e, por isso, mais em sintonia também connosco próprios e com a nossa essência.
Passados 8 anos que eu deixei o meu trabalho, eu sinto que sou uma inspiração para as outras pessoas que ainda não deram esse passo e cada vez são mais as que me procuram a dizer “eu sinto o mesmo”, “tens muita coragem”. Hoje o seu foco está muito direcionado para essa questão da mudança e assume que a questão da pandemia, veio acelerar esta necessidade em muitas pessoas que de alguma forma já ansiavam por conseguir fazê-la. Todos nós temos mudanças para fazer na nossa vida, não é preciso sair do emprego e ir para uma autocaravana viver, não é preciso nada disso. Mas todos nós temos coisas que queremos transformar em nós. Além dos retiros, que é algo que quer muito continuar a fazer, cria também círculos online, onde num espaço seguro, se aprofundam temas de desenvolvimento pessoal, e participa ainda em palestras em universidades dentro das temáticas do nomadismo digital e também do seu estilo de vida na autocaravana.
Para um futuro próximo existem já muitas ideias de novos projetos e até muitas viagens programadas que prefere ainda não revelar. Contudo ficou a certeza de que a autocaravana continuará a rolar e de que pelo caminho muitas pessoas serão impactadas pelo seu trabalho a que se dedica diariamente com sentido de missão e de propósito.
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