Histórias | Capítulo I Médio Tejo

Projeto Zen Family

É na pequena aldeia de Casas da Ribeira, a escassos quilómetros da vila de Mação, na região do Médio Tejo, que fomos encontrar a Daniela Ricardo e o Luís Baião, proprietários da Casa dos Sonhos e do projeto Zen Family. Se existem lugares mágicos, cuja energia parece contagiar-nos no preciso segundo que neles entramos, este é sem dúvida um desses lugares. A sensação é a de termos chegado a um lugar protegido, alheio ao lado mais mundano e mais próximo da nossa essência, tal é a sua comunhão com a natureza. Um espaço inspirador, onde todos os ingredientes para o estímulo da criatividade parecem estar presentes e vivos.

A Daniela é natural de Matosinhos e trabalhou durante 20 anos enquanto enfermeira, o Luís é natural de Sintra e há 25 anos que se considera um viajante de profissão. Conheceram-se na cidade do Porto e rapidamente perceberam partilhar a paixão não só pelas viagens, mas também por um estilo de vida saudável. Não foi nesse primeiro momento que iniciaram uma vida em comum, mas o destino acabaria por voltar a cruzar os seus caminhos. Gerir a carreira de enfermagem com as funções enquanto consultora de alimentação consciente e natural, além das viagens que começou a fazer juntamente com o Luís, obrigou-a a tomar uma decisão e foi assim que a enfermagem ficou pelo caminho. Sentia que trabalhava no controlo de danos e na doença e percebi que o que realmente fazia sentido para mim era trabalhar na saúde e ensinar as pessoas como criar hábitos de vida saudável.

Lançar-se como viajante há 25 anos atrás fez com que as pessoas à volta de Luís assumissem simplesmente que ele não queria trabalhar. Hoje a forma como vemos estas profissões é brutalmente diferente, mas nessa época não era de todo algo que as pessoas conseguissem compreender e havia muito preconceito. Durante este longo percurso dentro do universo das viagens, já passou por um sem fim de países como o Butão, Nepal, Sri Lanka, Namíbia, Japão, Marrocos, e a lista poderia continuar quase indefinidamente. O processo de criação dessas rotas foi sempre um dos elementos que maior prazer lhe deu nesta profissão, e nos últimos anos é com a Daniela que o partilha, assumindo ambos a função de guias nas viagens de grupo que organizam. Hoje em dia digo que viajo para onde eu quero, quando eu quero, e as pessoas por acaso também querem vir e então pagam-me para eu viajar. 

A ligação à aldeia de Casas da Ribeira chegou pelas mãos dos pais de Luís, que ali residem há 20 anos. Desde que estão juntos, Daniela e Luís, que as vindas a este lugar eram constantes – sendo que há 7 anos que ali começaram a organizar retiros – até que perceberam que entre os meses que passavam a viajar e os que estavam em Portugal, já quase não paravam na casa do Porto e era ali, naquele lugar, onde de facto se sentiam bem. Há dois anos a decisão tornou-se evidente para ambos, e mudaram-se em definitivo para a Casa dos Sonhos. A serenidade nas palavras de Daniela torna evidente o quão positiva foi essa mudança, aqui estamos num paraíso, a qualidade de vida é muito melhor, saímos à rua e só ouvimos os passarinhos a toda a hora, respiramos o ar puro que a natureza nos dá e continuamos a estar perto de tudo. 

A chegada da pandemia obrigou a uma pausa. As viagens que estavam programadas para todo o ano de 2020, e que estavam já nessa altura esgotadas, tiveram que ser adiadas por tempo indeterminado e o foco teve de ser redirecionado para outras áreas. O amor que sentem por esta aldeia fê-los decidir que este era o momento certo para perceberem de que forma poderiam ajudar a revitalizá-la, e foi assim que nasceu a Campo Estival – Associação Cultural e Desenvolvimento Humano, que em menos de dois meses conta já com mais de 200 associados. Foi desta forma que começaram por sensibilizar as pessoas a vender velhos palheiros e casas em ruína, ao mesmo tempo que chamavam amigos que sabiam sonhar com poder vir viver para o interior. Neste momento já existem 8 novos residentes na aldeia, um hostel que irá abrir brevemente, uma horta comunitária criada pela Associação, e num futuro breve, um forno comunitário e uma cara nova para a Casa do Povo da aldeia, pela qual o casal ficou também responsável. Através desta Associação, e assim que a pandemia o permita, querem começar a trazer pessoas até Casas da Ribeira e desenvolver atividades com uma intervenção cívica, como limpeza da natureza, pintura de casas mais degradadas, cujos proprietários já não tem capacidade para o fazer e assim, através do exemplo, sensibilizar as pessoas a cuidar melhor deste lugar. 

Os projetos deste casal são intermináveis, porque neles reside uma fome insaciável de criar, de construir e de poder contribuir para algo maior. Além dos retiros que desenvolvem já há vários anos, sob as temáticas de desenvolvimento pessoal, contacto com a natureza, empoderamento e alimentação saudável, realizam ainda refeições às cegas, passeios, viagens sensoriais através de vários instrumentos que foram trazendo das suas viagens, e ainda workshops de alimentação natural e consciente. Outra das ofertas que tem vindo a crescer cada vez mais na Casa dos Sonhos, é direcionada para empresas e surgiu pelo interesse demonstrado pelas mesmas. Pequenas equipas que procuram reunir-se num ambiente diferente, longe dos escritórios convencionais, escolhem este lugar perto da natureza para o poderem fazer, e muitas vezes agregam a essa experiência outras das atividades que o casal ali desenvolve, como os passeios pela natureza ou os workshops.

A tranquilidade e a leveza que viajam nas palavras de ambos mostra de forma clara o quão felizes estão por terem tomado esta decisão. Admitem que o facto de terem viajado muito e por países com dimensões brutalmente maiores do que a de Portugal faz com que a noção que têm das distâncias seja hoje bastante diferente. Mas a verdade é que estando no centro do país, ou no umbigo, como Luís o chama, faz com que de facto se sintam próximos de tudo, com a vantagem de estarem num ambiente confortável e que lhes permite continuar a trabalhar sem nenhum tipo de entraves, muito antes pelo contrário. Daniela está neste momento a terminar o seu quinto livro e conta-nos que, antigamente, íamos para o Gerês ou para os Açores para eu acabar de escrever os meus livros e poder ter um ambiente sossegado e tranquilo no meio da natureza, e agora basta-me estar em casa. Para Daniela e Ricardo viver no centro de Portugal é viver num lugar de infinitas possibilidades, onde a presença tão agreste da natureza serve de estímulo à criatividade e à criação, sem barreiras nem limites.

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