Na Era do Digital, as exigências do trabalhador – para com o seu trabalho e empregador – são agora muito maiores e mais complexas.
O que há não muito tempo era [quase] expectável em termos de trabalho: 9 to 5, numa secretária num escritório fechado, com pouca ou nenhuma perspetiva de mudança – hoje é impensável. No rescaldo da pandemia [de Covid-19], é possível observar uma alteração generalizada da abordagem que os indivíduos – trabalhadores e empregadores – têm do que é o trabalho e das suas metodologias.
Nos dias que correm, a procura de uma atividade profissional – com um salário apelativo ou que nos permita iniciar uma carreira – já não é a questão mais premente. Há agora, em contraste, uma procura incessante pela liberdade, mudança e descoberta – pessoal e do mundo em redor. A perspetiva de fixação, segurança financeira e laboral tem-se tornado, em muitos casos, pouco apetecível e um fator de relevância reduzida. Contudo, há cada vez mais uma procura incessante pelo risco e pelas experiências. Acima de tudo, há uma procura pela liberdade: de circulação, de pensamento e de tomada de decisão.
Desde o surgimento de novas necessidades – à rápida perda de outras há muito consolidadas – a proliferação do nomadismo digital veio agitar: as pessoas, as comunidades e o mundo. Hoje, aceitar ou decidir onde trabalhar exige uma reflexão profunda sobre novos e decisivos fatores.
Por um lado, coloca-se a questão do local de trabalho: se é fixo ou remoto. Neste momento, [esta questão] coloca enormes limitações na tomada de decisão e – para muitos – já é uma questão decisiva.
Por outro, a natureza do trabalho.
Se há 20 anos um trabalho tinha – expectavelmente – um horário fixo, com deslocações diárias para o local de trabalho e com um contrato de exclusividade sem termo – hoje em dia essa realidade é cada vez mais minoritária e de interesse diminuto.
A procura por flexibilidade e conforto é, nos dias que correm, um fator peremptório na escolha de um trabalhador do século XXI. A visão de que o local de trabalho equivale a trabalho é hoje facilmente refutada pela perspetiva de que as condições de trabalho são o maior fator para a produtividade e, acima de tudo, o bem-estar do trabalhador.
Trabalhar já não é – apenas e só – apresentar resultados e fazer parte de uma empresa na qual podemos fazer carreira e subir na hierarquia. Trabalhar é, agora, a consequência de um processo de conhecimento e realização pessoal – através da procura de experiências, desafios e novas realidades.
Um nómada digital não terá qualquer tipo de problema em dizer que não a uma oportunidade meramente porque não compactua com os seus objetivos e visões naquele momento da sua vida. As experiências valem – agora – incomparavelmente mais do que qualquer ordenado avultado, carro vistoso ou roupa de marca.
O que era um trabalho – unilateral e singular – é agora substituído por vários em regime de freelance; a figura do chefe – a quem devemos justificações e nos pode despedir – é agora arcaica, dado que cada um de nós pode ser o seu próprio chefe; e por fim, o que tradicionalmente era um local de trabalho, é agora irremediavelmente diferente: cafés, espaços de cowork ou residências são agora os locais em que se trabalha mais, se cria mais e se cresce mais.
Assiste-se – hoje – a uma mudança drástica naquilo que se espera de um trabalho, de um chefe e de um local [de trabalho].