Larissa Amaral e Felipe de Moraes, Larissa Amaral Arte e Tatuagem
Foi nas Caldas da Rainha – cidade criativa, cuja arte se respira em todos os recantos – que tivemos o privilégio de conhecer esta história inspiradora. Quem conhece a cidade e as pessoas que nela e, sobretudo dela, vivem, certamente terá facilidade em imaginar a expectativa com que chegámos – de que este encontro seria com pessoas talentosas e estimulantes. Mais do que isso, foi momentaneamente notório que estaríamos perante alguém predisposto a dar o seu contributo para este projeto através da sua energia.
A Larissa e o Felipe receberam-nos no edifício do Silos, um contentor criativo – como é conhecido – que foi outrora uma fábrica de moagem, e que dá hoje palco a artistas de diversas áreas, como é o caso de Larissa. Arquiteta de formação, sentiu as veias criativas presas às exigências inerentes a essa profissão, e decidiu seguir o que realmente a fazia sentir realizada. Exerci no Brasil durante 6 anos e senti uma falta de liberdade artística muito grande. Então, sabia que queria parar de trabalhar com isso. Depois, fiz um curso de gastronomia, trabalhei em restaurantes como chefe de cozinha, mas aí a tatuagem me abraçou e me apaixonei. Felipe, Engenheiro do Ambiente de profissão e amante de surf, é o braço direito de Larissa em todos os seus projetos profissionais, e a outra metade desta aventura. Trabalha na Lourinhã, a vinte e cinco minutos das Caldas da Rainha, há menos de um mês, numa cooperativa sem fins lucrativos, cuja principal finalidade é a promoção de um desenvolvimento sustentável.
O que começou por ser umas férias de duas semanas em Portugal, acabou por se tornar num plano para o resto da vida. Como nos conta o Felipe, A gente estava no Brasil em novembro de 2019 e comprámos uma passagem para Portugal, para vir quinze dias de férias. Só que eu amo o litoral, sempre peguei ondas, e gostei muito dessa zona aqui. Passado duas ou três semanas, olhamos um para o outro e falámos “Vamos ficar em Portugal? Vamos perder a passagem de volta?”. Larissa embarcou nesta jornada, que estava apenas a começar e, juntos, deram início ao plano que lhes iria mudar a vida para sempre e para melhor.
Casaram um mês antes de virem para Portugal. O Felipe inscreveu-se num mestrado em Bragança – para que tivessem mais facilidade em conseguir o visto de residência – e começou a viagem. Estiveram duas semanas a viajar, apaixonaram-se por Peniche e foi consensual que teriam de viver nesta zona do país, eventualmente, depois de cumprida a tarefa do Felipe de terminar o mestrado em Bragança. E assim foi. Viveram em Bragança e, depois, em Vila Real – onde Larissa teve o seu estúdio de tatuagens e conquistou a maior parte dos clientes, que ainda hoje mantém. Ambos admitem que vão, para sempre, guardar o norte do país num lugar especial dos seus corações. Contudo, a energia das pessoas no centro do país é, para eles, especial. As pessoas são muito mais abertas. Acho que essa cabeça aberta que sinto aqui no centro é impressionante, principalmente nos jovens.
Apesar da paixão imediata por Peniche, admitem que precisam de viver numa cidade com mais serviços e acessibilidades. Procuraram um destino permanente com essas características e foi assim que chegaram à cidade criativa. Conheceram o Silos quando procuravam casa. Foi por um anúncio de uma casa que estávamos a ver que dizia “Fica em frente ao Silos”, conta-nos Larissa. No mesmo dia, visitaram a casa e o edifício do Silos, e não havia como não ficarem com ambos. Larissa sente que, ao contrário do que experienciou em Vila Real, aqui a arte está presente em tudo. Há artistas de todas as áreas, há cultura e gosto pela arte por parte das pessoas. Acho que a inserção cultural e artística aqui é muito grande e foi isso que nos trouxe para cá. Além disso, falam da facilidade que têm em chegar a todo o lado – andam sempre a pé e só usam o carro, fundamentalmente, para ir à praia. Felipe, para quem o sol é um elemento fundamental, diz-nos que outro aspeto positivo, no que diz respeito à qualidade de vida no centro, se prende precisamente com o clima, que considera muito parecido com o da cidade onde viviam no Brasil – Curitiba, uma cidade com dois milhões de habitantes. Larissa diz-nos que, inicialmente, achavam que esta adaptação ia ser difícil – sair de uma cidade enorme para passar a viver num meio tão mais pequeno, comparativamente. Hoje em dia, não se imagina numa cidade como Lisboa ou o Porto – com trânsito, preços altos e outras preocupações que no centro do país não têm. Falaram-nos nos futuros filhos e na liberdade que sentem que lhes podem vir a dar, nas Caldas, para brincarem livremente na rua. Num plano a curto prazo, Larissa ambiciona voltar a estudar, na ESAD, com o objetivo de estimular a vertente artística que lhe dá mais prazer – a ilustração – e de conhecer mais pessoas com quem se possa envolver e relacionar artisticamente. A minha grande paixão é a ilustração botânica, sou completamente apaixonada, conta Larissa. Decidiu mudar recentemente a imagem do estúdio, deixando de ser apenas um estúdio de tatuagens para ser um estúdio também onde expõe os seus outros trabalhos – desde ilustrações a artigos de vestuário com a sua “pegada”.
Por todos estes motivos, é evidente que vieram para ficar. Esta história deixou presente a mensagem de que é preciso arriscar e apostar num futuro ambicioso, a fazer o que realmente se gosta, e se possível, com quem se gosta.