Histórias Histórias | Capítulo II Viseu Dão Lafões

João Almeida, Rural Move

Nascido e criado em Viseu, o João é não só um legítimo filho da região Centro como um verdadeiro embaixador deste território. Licenciou-se na Universidade de Aveiro em Línguas e daí seguiu para um mestrado em Gestão. Hoje é aluno de doutoramento e move-se por uma grande paixão – não só enquanto área de estudo, mas também enquanto material para o trabalho que quer desenvolver –  o empreendedorismo em territórios rurais. Apesar de termos marcado encontro virtualmente, durante toda a conversa foi evidente a sua energia inesgotável e acima de tudo a sede por fazer mais, por criar e por saber que o seu objeto de estudo é um repositório de um potencial incomensurável. 

Se a maioria dos projetos que encontramos nesta área surgiram no contexto da pós-pandemia, este não foi o caso da Rural Move. Esta associação sem fins lucrativos nasce ainda em pleno período pandémico e o seu propósito, esse sim, foi pensar o que seria a realidade dos territórios rurais finda a pandemia. No âmbito do movimento Tech4Covid19, em meados de 2020, é criada a associação, da qual o João é co-fundador e após terem ganho um concurso da Casa do Impacto, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, conseguiram lançar uma melhor versão da plataforma e arrancar com o projeto. Tudo isto surge com a consciência de que o trabalho remoto e o nomadismo digital seriam modelos que estariam para ficar, mas também de que existiria uma movimentação natural de pessoas para locais menos populosos. E portanto, criámos uma plataforma cujo objetivo era, e continua a ser, criar uma one stop shop de todos os apoios. Pensámos “temos de criar aqui qualquer coisa que a pessoa vai lá e saiba quais é que são as oportunidades de alojamento, quais são as oportunidades de emprego, os espaços de cowork existentes, os apoios nacionais e locais que existem. 

Com o surgimento da plataforma, foram centenas os primeiros pedidos de ajuda a surgir, mas também a evidência de que muitas dessas pessoas sonhavam com uma mudança, sem de facto a terem já pensado, 95% dessas pessoas eram aquelas pessoas que diziam “ai eu gostava tanto de um dia ter uma quinta no interior”, mas no fundo não estavam preparadas, muito longe disso. Este primeiro “obstáculo” foi o que lhes permitiu enquanto associação perceber qual seria o passo seguinte. Assumindo a Rural Move enquanto um facilitador e um criador de pontes entre pessoas, era essencial criar parcerias e encontrar voluntários nas comunidades. Nós queremos posicionar-nos como ponte entre estes dois grandes mundos, as comunidades locais nestes territórios e aquilo que nós chamamos de Rural Movers que são pessoas que querem trabalhar, viver ou investir nos territórios locais. É neste sentido que a associação vai crescendo, pensada por pessoas para pessoas, e principalmente com foco em soluções e não em problemas. 

Apesar de neste momento terem apenas parceria com 7 municípios, a sua rede de anfitriões e parceiros locais é já bastante extensa e dispersa por todo o território Centro, estas pessoas só querem ver coisas a acontecer nestes territórios e juntam-se à Rural move um pouco para fazer parte de algo maior, nacional. Além de visitas, workshops, ou um workplace online onde partilham ideias e criam projetos com outras dezenas de pessoas envolvidas, no início do próximo ano têm já uma ação planeada, em parceria com o município de Miranda do Douro, vamos levar 15 trabalhadores remotos para lá passarem uma semana, como uma experiência, e também darmos um feedback ao município do que é que é preciso fazer, do que faz falta. Este será o tipo de iniciativas que querem depois poder replicar noutras regiões, conseguindo desta forma atrair novas pessoas e por outro lado perceber de forma evidente quais as suas necessidades, podendo estes locais adaptar a sua oferta. 

Poderem estabelecer sinergias e no fundo dar um apoio informal ao que são normalmente as questões associadas a estes processos de mudança e o que de facto os move. Nós nunca nos quisemos assumir como uma consultora de mudança, nós não somos uma imobiliária, nós fazemos a ponte. Muitos destes apoios são difíceis de medir, mas a verdade é que as evidências surgem, e muitas vezes de forma inesperada. Durante uma das conversas que regularmente organizam online, uma participante partilhou que vivia no Algarve interior e que gostaria que acontecessem por lá mais coisas, e em forma de resposta o João sugeriu-lhe que isso deveria começar com ela. Passado um mês, ela enviou uma mensagem para o facebook da Rural Move a dizer “Olá, depois de ter ouvido aquela conversa e me terem dado a resposta que deram, decidi criar a minha pequena consultora de branding, e comecei a trabalhar para os pequenos negócios rurais aqui da minha zona. São exemplos como este cujo impacto é muito difícil de medir mas ao mesmo tempo, também são eles um dos maiores e mais poderosos motores para continuarem a desenvolver este trabalho.


Esta relação umbilical entre o João e a região Centro, aliadas à paixão pelo empreendedorismo e pelas comunidades rurais guardam a certeza de que continuará firme nesta sua jornada. A região Centro, tem tudo e é muito diversa e isso pode ser bom quando nós tentamos atrair pessoas não para um território específico mas para a região como um todo. Profundo conhecedor das idiossincrasias destes territórios vê a missão da Rural Move neste sentido “Movimento para os territórios rurais e territórios rurais em movimento” e acredita que se conseguirmos mostrar que existem territórios rurais em movimento e dinâmicos, a outra parte, vai acontecer naturalmente. O futuro da associação está repleto de novas ações, mas acima de tudo de uma grande vontade de pensar e trabalhar com e para estas comunidades, assumindo que esse caminho não se faz apenas através de potenciais novos habitantes, mas principalmente através dos que já os habitam.