Francisca Carvalho, Cowork Base
Para muitos a ideia de um espaço de cowork ainda está associada a um espaço partilhado, onde cada pessoa ou equipa trabalha na sua pequena ilha. No Base Cowork a realidade que ali se vive é bem diferente, e isso é imediatamente perceptível assim que se entra pela porta. Por entre arquitetos, engenheiros, designers, pessoas da área de comunicação, e a lista poderia continuar, fomos conhecer a Francisca Carvalho, especialista em recrutamento e recursos humanos, e presença assídua no Base.
A Francisca nasceu em Coimbra, mas foi em Alvega que cresceu, no concelho de Abrantes, e é enquanto ribatejana que se identifica. Licenciou-se em Psicologia das Organizações no Porto e confessa terem sido esses, alguns dos melhores anos da sua vida. Posteriormente passou por variadas empresas em Portugal, na sua grande maioria multinacionais, mas foi numa viagem a Londres para visitar uns amigos, que percebeu que poderia estar ali uma oportunidade. Fiz o meu CV em inglês e comecei a mandar candidaturas e em menos de um mês tinha uma oferta de trabalho. Fiz entrevistas online e passados dois meses, mudei-me para Londres. Acho que ter uma experiência no estrangeiro é sempre enriquecedor, não só em termos de trabalho mas do nosso próprio mindset.
Em Londres encontrou ótimas oportunidades de trabalho, a possibilidade de desenvolver o seu inglês, e ainda a de conhecer e aprender com diferentes culturas, mas não encontrou algo valioso, qualidade de vida. Na altura conheci a cidade de Bristol, achei que podia ser feliz ali, despedi-me e fomos viver para lá, eu e o meu companheiro. É uma cidade muito vibrante no sentido artístico também, que é algo que me interessa. Foram 6 anos de grandes aprendizagens, entre Londres e Bristol, da possibilidade de fazer muitas das suas viagens de sonho, como a Índia, Tailândia e Brasil, mas o regresso a Portugal esteve sempre na sua mente. O sol já me fazia muita falta e um dos aspetos que me fez mais confusão foi que sempre que eu vinha e olhava para os meus pais, reparava que eles estavam mais velhos. Depois veio o Brexit e acelerou ainda mais esse processo de decisão.
Despediram-se e regressaram a Portugal, nessa fase já com um primeiro bebé a caminho, e com a decisão em mãos de escolher o que viria a ser a sua nova morada. Não queríamos estar muito longe do mar, queríamos um sítio central em que pudéssemos também viajar por Portugal. Já conhecíamos Leiria, era uma cidade atrativa em termos culturais, que tem todos os serviços – especialmente quando se tem uma criança – mas ao mesmo tempo que não é demasiado busy. Quando questionaram alguns conhecidos que já viviam em Leiria, o feedback foi sempre positivo e isso facilitou com que há 3 anos se mudassem de armas e bagagens.
Apesar de valorizar o contacto humano e de ser algo que lhe faz muita falta, quando surgiu a possibilidade de ter um trabalho remoto na sua área, pareceu-lhe a opção ideal para esta fase da sua vida. Além de ser o “work from anywhere”, se quiser entrar ou sair mais cedo, está tudo bem – o que interessa é o delivery, ter os resultados quando necessários. Hoje por exemplo, quando abri o computador já tinha uma mensagem do dono da empresa a dizer “you know the rule, it ‘s Friday, 4 hours and 4 hours only”. Ou seja, eu à quinta-feira já sinto que quase estou de fim-de-semana.
Apesar de valorizar a liberdade que este trabalho permite, a tal falta de contacto com outras pessoas trouxe a necessidade de procurar opções de coworking. Trabalhar a partir do Base permitiu-lhe assim ter colegas com quem pode estar presencialmente, além dos que vê todos os dias através do ecrã do computador. Temos sempre o “social Friday” na última sexta feira do mês em que ao final do dia vamos beber um copo, e acima de tudo há aquele espírito de comunidade e de entreajuda que o Carlos, que é o dono deste espaço, tenta imprimir.
A centralidade de Leiria permite que nunca se sintam distantes dos amigos nem da família e que os possam visitar com regularidade, mas a dinâmica que existe na própria cidade também faz dela apetecível para diferentes programas. Aos sábados de manhã, estaciono e faço tudo a pé no centro. Aqui temos kms e kms à beira rio para passear, vários parques para crianças, e muito comércio de rua que é o que eu mais gosto. Além disso, ainda há muita oferta cultural e diversificada, tanto para nós como para os mais pequenos. Hoje, com mais um bebé a caminho, todas estas mais valias que encontrou no Centro, vão reforçando a certeza de terem feito a escolha certa.
Ao longo de toda a conversa foi-se tornando evidente o quanto os anos fora de Portugal contribuíram para que hoje valorize ainda mais a vida que veio reencontrar no Centro. Como muitas vezes acontece, a distância reforçou os laços e as raízes que de forma inquebrável a ligam a este território, e a vontade de que este seja também o lugar onde quer ver os seus filhos crescer. Por outro lado, a possibilidade de poder trabalhar remotamente, trouxe uma liberdade e uma flexibilidade acrescidas, e de que já não se imagina a abdicar. Acho que temos uma excelente qualidade de vida – perto da praia, com acesso a muitos espaços verdes, espaços de coworking, e até agora estou super satisfeita e nada arrependida da nossa decisão de nos mudarmos para cá.