Fanny Wicky, Pipedream

A grande vantagem de hoje vivermos num mundo onde as distâncias parecem ter-se extinguido, é a forma como podemos relacionar-nos, sejam quais forem os quilómetros que nos afastam de outra pessoa ou de outro lugar. Foi assim que tranquilamente pudémos conhecer e conversar com a Fanny, de Portugal diretamente para a Suíça, sem filas de aeroportos e sem contribuirmos para as emissões de dióxido de carbono.
A Fanny nasceu e cresceu na Suíça e foi na cidade de Genebra que decidiu iniciar o seu percurso no ensino superior, no curso de Direção de Arte, podendo aí desenvolver os seus conhecimentos em áreas que sempre a apaixonaram, como o design gráfico, a fotografia ou a comunicação. Foi durante esse período que uma pessoa a abordou pedindo-lhe para lhe criar um website. Nessa fase ainda não sabia como fazê-lo, mas decidiu aprender por si e aceder a esse pedido, quando eu percebi que sabia construir sites, pensei, isto é incrível, eu posso ganhar dinheiro a trabalhar a partir do meu quarto, a fazer algo que realmente gosto e ainda aprender muito. Este foi um momento de viragem no que viria a ser a sua vida, mas nessa altura a ideia de criar o seu próprio negócio ainda lhe parecia muito distante.
Vinda de uma família onde todos seguiram profissões mais convencionais, como o ensino, a medicina ou a investigação, nunca tinha tido contacto com o mundo empresarial, nem fazia ideia do que seria necessário para se aventurar nesse sentido, pensar em construir um negócio era muito diferente dos trabalhos que tinha enquanto estudante, como vender sandes numa estação de comboios às quatro da manhã. Com o aparecimento de novos clientes percebeu que necessitava mesmo de criar a sua própria empresa e foi assim que mais uma vez, fazendo essa pesquisa sozinha, se tornou empresária, apenas com 22 anos.
Muitos dos seus clientes eram também eles empreendedores que começavam a dar os primeiros passos na criação do seu negócio, e na grande maioria das vezes sentia-os ainda bastante perdidos quanto ao cliente ideal, valores, missão e estratégia de marketing e decidiu aprofundar os seus conhecimentos através de um MBA em Empreendedorismo e Inovação. Foi assim que todo o processo se tornou muito mais fácil e que criei a minha segunda empresa que agora é a principal “The Bold Lab”. Aqui eu ajudo os empreendedores de A a Z, através de um método que mistura coaching, mentoring e consultoria: Business & Lifestyle Design. Além deste trabalho ainda dá aulas online, eu odeio ensinar uma nova feature do instagram que eu sei que em dois meses vai mudar e eles vão sempre precisar de mim. Para mim o que é interessante é ajudá-los uma única vez numa coisa que nunca vai mudar, como o nosso cérebro e a forma como tomamos decisões.

A liberdade de poder decidir a sua localização enquanto trabalha é hoje algo de que não prescinde e a ideia de cumprir um horário e de ter de estar num escritório é um pesadelo, há 2 anos atrás recebi uma proposta de um cliente muito grande que me exigia que eu fosse regularmente ao escritório e aí eu tive de pensar “será que quero este contrato ou poder manter-me livre?” e como para mim é essencial poder viajar e conhecer pessoas novas, assumi o risco e recusei. É neste sentido que apenas neste início de ano, já passou duas temporadas fora, uma delas em Bali e outra nas Ilhas Canárias. Mas foi enquanto planeava o destino para passar um dos meses verão – tendo a prática de surf como elemento essencial – que Portugal surgiu e lhe pareceu o favorito, mesmo quando comparado com a Tailândia ou a Costa Rica.
Cheguei ao Pipedream em Ferrel eram 21h e estavam a fazer um churrasco e eu sinto que entrei logo num novo grupo de amigos. Toda a gente foi sempre simpática comigo, nos mercados, os instrutores de surf, a senhora que cuidava no nosso jardim, os taxistas. Eu acho mesmo que só conheci pessoas simpáticas. Durante a sua estadia de um mês em Portugal neste espaço de coliving e coworking, surfou todas as manhãs e aproveitou as tardes para trabalhar e conheceu ainda a famosa Festa de Ferrel onde se surpreendeu com a mistura de turistas, jovens e gerações mais velhas, algo que seria impensável de encontrar na Suíça. As ondas são incríveis, é seguro andar na rua à vontade sozinha, o clima é ótimo, a vida é leve e simples e os preços são acessíveis, vou voltar de certeza absoluta.
Se toda a gente fosse nómada digital não haveria mais guerras no mundo, esta é a visão que a vida enquanto nómada digital lhe tem dado. A liberdade de explorar novas culturas, aprender novas formas de estar, abrir a mente e de perceber que não existe apenas uma maneira de se viver são algumas das grandes vantagens que vê no universo do nomadismo digital. Eu estava a dar aulas antes da pandemia aos meus alunos de mestrado e eu diria que 10% queriam criar o seu próprio negócio e agora 90% dizem que não querem um trabalho convencional e que querem ser nómadas digitais ou pelo menos criar o seu próprio negócio.
A Fanny é o retrato perfeito não só de uma geração sem fronteiras nem amarras, mas também e acima de tudo de uma nova forma de encarar o mercado de trabalho, onde a flexibilidade é tão crucial quanto o sentido de responsabilidade e de autonomia. Longe das ideias ultrapassadas da possibilidade de um trabalho para a vida toda, o futuro está de facto nas mãos dos que se adaptam e se reinventam todos os dias, como a Fanny.
