Histórias | Capítulo II Médio Tejo

David Ferreira, Lago Azul

Em plena albufeira de Castelo de Bode, em Ferreira do Zêzere, encontrámos uma paisagem idílica digna de uma produção cinematográfica, o Lago Azul. Entre uma grande mancha florestal e o rio Zêzere, este enorme lago serviu-nos de cenário para conhecermos mais uma história sobre alguém que se rendeu aos encantos do centro de Portugal. Se a primeira razão desta descoberta aconteceu pela prática desportiva, rapidamente toda uma outra série de motivos foram surgindo para que aqui, o David encontrasse uma segunda Casa.

David Ferreira, nasceu e viveu grande parte da sua vida em Lisboa. Desde os 16 anos que tem barco, o que faz com que estas vivências façam parte da sua vida há quase 30 anos. Numa fase em que surgiu a questão de onde poder deixar o seu barco, foi-lhe sugerido por alguns amigos exatamente esta localização do Lago Azul. Gostei disto aqui, deixei o barco aqui e estive 2 ou 3 anos a ir e vir constantemente, principalmente ao fim de semana. Vinha de Lisboa à sexta-feira ou dormia aí e às vezes arrancava ao sábado de manhã, passava o dia todo a fazer wakeboard e depois arrancávamos sábado à noite para Lisboa. 

A sua vida profissional iniciou-se em Portugal, mas quando começou a sentir-se frustrado e com vontade de agarrar projetos diferentes, a oportunidade acabaria por lhe chegar da Irlanda, e hoje, já são quase 12 anos a trabalhar por lá. Contudo, uns anos antes, acabou por comprar casa aqui, e isso fez com que a sua vida hoje se encontre dividida entre os dois países. Com dois filhos essa logística tornou-se ligeiramente mais complexa, mas nada que não tenha arranjado forma de conseguir contornar, falamos com os professores, trazemos os livros todos e depois arranjamos uma rapariga aqui de Ferreira do Zêzere que vem todos os dias de manhã e faz duas ou três horas do programa da escola com eles em inglês. acho que lhes dá alguma ginástica mental e física do que estarem o ano todo com uma rotina no mesmo sítio. Com a possibilidade de trabalhar em qualquer parte do mundo, tal como a sua esposa, não lhes faria sentido não se aproveitarem desse facto.

Foi o desporto que me trouxe aqui em primeiro lugar. Não gosto muito de Lisboa, não estou nunca muito tempo em Lisboa, mas aqui especificamente, esta zona é muito bonita, e sossegada, tens restaurantes bons e tens supermercados em Ferreira do Zêzere em 2 minutos. Se a prática desportiva foi o mote, hoje parece-nos evidente que ela é apenas um dos muitos motivos que o trazem até ao interior do país. Apesar de nem tudo ser perfeito – porque nenhum lugar de facto o é – este estilo de vida algo saltimbanco, parece ser o seu ponto de equilíbrio e o que lhe consegue dar o melhor de dois mundos. 

Além da clara paixão pelo wakeboard e pelos desportos náuticos, esta localização também lhe permite usufruir de outro hobby, os passeios de mota. Os seus filhos curiosamente parecem querer seguir-lhe as pisadas e também já se assumem fãs de motocross, depois de terem tido essa experiência num campo de férias, e a verdade é que a ausência de trânsito nesta zona, juntamente com as fantásticas paisagens que a envolvem apelam mesmo a esses passeios. 

Com a certeza de querer continuar a manter-se preferencialmente 100% em trabalho remoto, o plano a médio prazo será manter a vida entre estes dois lugares, mas na hora da reforma já existe uma certeza, quando me reformar venho para cá permanentemente, quando os miúdos forem mais velhos e já tiverem a vida orientada. Ir viver para Lisboa está fora de questão,contudo queremos manter a nossa casa na Irlanda, a minha mulher gosta imenso daquilo, eu nem tanto. A verdade é que nos últimos anos vários estrangeiros têm escolhido esta região em particular para se instalarem, o que faz com que se comece a criar ali uma comunidade internacional interessante. A chegada destes novos habitantes poderá certamente contribuir para um dinamismo ainda maior deste território, trazendo com certeza mais aficionados dos desportos náuticos mas também mais famílias que cada vez mais procuram o slow living.