Ana Melo, Cooperativa Cowork das Aldeias de Montanha – Alvoco das Várzeas
A beleza dos lugares singulares é que podemos criar uma ligação com eles que não implica raízes familiares nem ligações afetivas. É algo mais profundo que advém quase sempre do que a presença nesses lugares nos faz sentir. A Ana encontrou esse elo com as aldeias de montanha, e hoje sabe que essa relação embora não seja de sempre, será para sempre. Para nos explicar o porquê deste acontecimento, e o que de facto torna estes territórios tão especiais, usámos mais uma vez as vantagens do universo digital e marcámos encontro.
Filha de um pai Setubalense e de uma mãe Algarvia, hoje é a vila de Azeitão a que chama de Casa. Foi para Lisboa estudar Design de Comunicação e foi sempre essa a sua área de trabalho, fazendo com que vivesse os últimos anos em Oeiras, antes da mudança. Na altura da pandemia começámos a procurar casa porque queríamos poder ter um quintal e acabámos por vir para Azeitão. A primeira vez que conheceu as aldeias de montanha estava ainda a trabalhar com a sua antiga agência de comunicação e design e apaixonou-se imediatamente por esta zona. Depois, quando ganhou uma bolsa de investigação e decidiu dedicar-se a 100% ao doutoramento, percebeu que poderia encontrar uma forma de voltar lá. O meu doutoramento é sobre design aplicado a territórios de baixa densidade, e eu imediatamente escolhi as Aldeias de Montanha como território para aplicar a parte prática da minha investigação.
Quando percebeu que gostaria de trabalhar com estas aldeias e de dinamizar estas comunidades, contactou a ADIRAM – Associação de Desenvolvimento Integrado da Rede das Aldeias de Montanha, através da Célia Gonçalves, e aí começaram um caminho de processos colaborativos. Com esta parceria pôde acompanhar todo o processo de criação dos espaços de coworking, a ligação dos mesmos a artesãos locais e a filosofia de economia circular que os sustenta e com a qual se identifica. Todas as pessoas com quem me cruzei foram sempre super queridas, tem-se logo uma relação de proximidade.
Por ter gostado tantos dos espaços de coworking criados pela Aldeias de Montanha, percebeu que tinha de criar lá uma atividade que lhe permitisse trazer outras pessoas a conhecer estes espaços, tendo sido o de Alvoco das Várzeas o escolhido, convidei algumas pessoas da região, e outros especialistas e fizemos uma espécie de workshop para o meu doutoramento e todos ficaram rendidos à envolvência do espaço. O Alvoco das Várzeas tem aquela praia fluvial lindíssima e o coworking está a 2 minutos. Poder estar a trabalhar e no final do dia ir dar um mergulho no rio é incrível.
Apesar de ter trabalhado sempre em agência e em regime presencial, agora que o doutoramento está prestes a terminar, já meteu totalmente fora de hipótese regressar ao mesmo sistema, o meu marido também trabalha na mesma área e estamos sempre a dizer que já não nos encaixa voltar a um escritório, depois de experimentarmos esta liberdade e flexibilidade, imaginar esse cenário torna-se uma prisão. Hoje a realidade que conhece, principalmente nas áreas criativas e tecnológicas é a do trabalho remoto ou pelo menos a do regime híbrido, o feedback que tenho é que em anúncios de emprego, especialmente em áreas de programação e tecnologia, se não colocarem pelo menos a possibilidade de regime híbrido o número de candidaturas que recebem é mínimo. As empresas vão de facto ter de se adaptar porque este é o futuro, não há volta atrás.
A colaboração que criou com a ADIRAM fez com que estivesse envolvida numa série de outros projetos desenvolvidos por eles nestes territórios, sempre muito ligados às comunidades locais, e no futuro sabe que esta relação só se poderá intensificar. Agora que se encontra na parte final da escrita da tese, só gostaria de conseguir deslocar-se por períodos maiores para estes espaços de coworking onde criar se torna um processo tão mais leve e por isso tão mais produtivo. Reconhecendo o enorme valor que encontra na região Centro e o potencial em poder ali desenvolver uma série de novas ideias e projetos, a certeza da sua ligação eleva-se ainda mais.