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A imagem idílica da vida no campo – realidade ou mito?

Não é segredo para ninguém que no contexto da pandemia e principalmente no seu pós, se iniciou uma movimentação natural dos lugares mais populosos para os de menor densidade. A experiência de um confinamento dentro de uma grande cidade, as janelas com vista apenas e só para outros prédios, a poluição e a ausência de contacto com a natureza, criaram em muitas pessoas o desejo de uma fuga para o campo. A ideia desse escape é claramente uma consequência de uma visão romântica do que pode ser a experiência de viver no meio da natureza, mas para muitos a dúvida persiste sobre a veracidade dessa visão. 

A experiência da construção das dezenas de Histórias deste projeto, onde tantas dessas mudanças nos foram relatadas na primeira pessoa, deu-nos imenso material de estudo e as conclusões foram tornando-se cada vez mais evidentes. Assumindo que nunca existem cenários perfeitos e que todas estas mudanças pressupõem certas cedências, o que foi bastante claro em todos os momentos, foi que a balança pende sempre mais para as vantagens dessa transição. As que mais vezes surgiram envolvem uma sensação de se ter mais tempo, a possibilidade de criar uma horta e de ter animais, casas maiores e a menores preços, um novo sentido de pertença e de comunidade e no geral, ou na junção de tudo isto, uma maior qualidade de vida. 

O fôlego que vemos impresso nessas descrições é inequívoco da sensação de paz e tranquilidade que se pode extrair desses lugares, e ao mesmo tempo – e este argumento foi também partilhado por muitos – é altamente potenciador para a criação, a criatividade e o surgimento de novas ideias e projetos. O dia a dia muitas vezes caótico das grandes cidades, onde as últimas horas do dia após o trabalho se esgotam em filas de trânsito, faz com que persista em muitos, uma sensação de pequenos hamsters a correr numa roda. Nesse sentido, para todos os que escolheram começar novos capítulos em moradas menos povoadas, é recorrente o sentimento de um certo reencontro com o eu. Como se a ausência de estímulos e impulsos constantes fosse o segredo para se ouvirem mais e para melhor cuidarem de si.

Desconstruindo o mote para esta reflexão, todos os indicadores apontaram na mesma direção, viver no campo é de facto idílico. Idílico no sentido de poder parecer de facto um sonho e de ter uma poesia natural que lhe é inerente, e não no sentido de ser utópico. Se esta tendência começa a ser natural, o mesmo se passa com a transformação destas pessoas em verdadeiros embaixadores destes territórios. Pessoas que na grande maioria das vezes não detêm relações familiares nem raízes nesses lugares, mas que pela vivência dos mesmos os começam também a sentir como seus. Nesta nova era onde a tecnologia e as novas metodologias de trabalho permitem que em muitas áreas se possa trabalhar a partir de qualquer lugar, é apenas de prever que estas mudanças se tornem cada vez mais comuns, e que esta seja a tendência do futuro.